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terça-feira, 28 de agosto de 2012

O INCOMPARÁVEL


Ao longo das últimas semanas você tem sido convencido em Espírito que Cristo foi alguém sem precedentes.  Sendo Homem, sendo Deus, sendo exemplo... Porém, hoje quero que você O veja de um modo totalmente diferente. Você já pensou nEle como moeda? E antes que estranhe a pergunta, gostaria de explicar um pouco esse raciocínio.
É plenamente normal, sempre que alguém vai viajar a pessoa relevar qual é a moeda corrente de um determinado país. Na Europa, predominantemente, tem-se o Euro. Nos EUA, o dólar. Se chegarmos a algum desses locais com o nosso querido Real em mãos, dificilmente conseguiremos executar alguma negociação cambial. Desse modo, você teria dificuldades para comprar alimento, arcar com as despesas de estadia e por aí em diante.
Agora, pense comigo. Imagine você viajando para um país chamado Reino de Deus. Que moeda se utiliza nesse reino de dimensões espirituais? Como chegamos até lá? E é nisso que quero conversar sobre a incomparabilidade de Jesus.
 Ele foi, é e será o pagamento da sua passagem de entrada nesse reino e, mais tarde, nos céus. Se você morresse pelos seus pecados seria feita justiça e você não receberia nada. Seria como tentar comprar algo nos EUA com Reais. Somente o sangue de Jesus, a moeda certa, foi e é capaz de sanar essa dívida. Quando Ele morreu por nossos pecados, fez-se misericórdia. E quando você reconhece e aceita esta misericórdia, recebe além do livramento da dívida a reconciliação com Deus. Isso pode ser observado em Colossenses 1.19,20. “Pois foi do agrado de Deus que n’Ele habitasse toda a plenitude, e por meio d’Ele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão no céu, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz.”.  Se não a aceita, perde Sua misericórdia e recebe justiça sobre sua dívida.
Já, para que você pudesse se relacionar no universo Espiritual, Cristo abriu  acesso ao Espírito Santo. É uma como adquirir uma conta com crédito infinito na moeda corrente do Reino Espiritual. Ou seja, Jesus não apenas sanou a dívida, mas foi além, garantido-lhe crédito com Deus por intermédio do Espírito. E para que tudo isso chegue até você, basta aceitar o sacrifício dEle.
Jesus Cristo superou em tudo a todos. E para finalizar, vale a pena observar dois versículos que tratam dos efeitos do preço pago por Ele.“Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o corpo de vocês.” (I Co 6.20). “Vocês foram comprados por alto preço; não se tornem escravos de homens” (I Co 7.23). Todo crédito Àquele que é tudo... nossa moeda incomparável!
Por Fernando de Melo

domingo, 19 de agosto de 2012

SERVIR É SOFRER


Se o apóstolo Paulo convivia com fadiga, frustração e medo em seu ministério, o quê nos faz pensar que podemos evitá-lo no nosso?
Por Ajith Fernando
Escrevo logo após participar de uma semana de ministração a pastores em meu país, o Sri Lanka.Eles atuam na região sul da Ilha de Ceilão, uma região marcada por sangrentas lutas separatistas e por muitas restrições ao exercício da fé cristã. Muitos deles trabalharam dez, 15 anos, antes de ver algumas conversões genuínas ao Evangelho, e a preço alto: foram agredidos, sofreram falsas acusações e ameaças de morte, tiveram templos apedrejados e filhos perseguidos na escola. Há aqueles que, infelizmente, desistem depois de alguns anos enfrentando toda sorte de dificuldades para tornar o nome de Cristo conhecido por seguidores do budismo e do hinduísmo, crenças professadas por mais de 80% dos cingaleses.
Sinto-me por vezes humilhado e envergonhado pela maneira como me queixo dos meus problemas, que são ínfimos em comparação com o daqueles irmãos. Quando faço ministrações no Ocidente, meus sentimentos são muito diferentes.Lá, sou capaz de “usar meus dons” e passo a maior parte do tempo fazendo coisas de que gosto.Tudo é mais fácil e prático! Mas, quando eu volto a ser líder em uma cultura como a do Sri Lanka, a frustração me assalta. A transição entre ser um palestrante diante de plateias cristãs em países da Europa ocidental ou dos Estados Unidos e ser um líder cristão em minha terra é difícil.Por isso mesmo, tenho pensado muito na questão do sofrimento na vida cristã. Como líder, segundo as Escrituras, eu sou servo das pessoas com que convivo. O cumprimento de minha vocação no Reino de Deus tem um caráter distinto, diferente do que significa satisfação perante a sociedade. O próprio Jesus disse: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra” (João 4.34).Então se fizermos a vontade de Deus, estaremos felizes e satisfeitos? Não, não é bem assim. Para Jesus, fazer a vontade do Pai significou enfrentar a cruz. Por que deveria ser diferente para nós?
A cruz deve ser um elemento essencial na nossa definição de realização pessoal. Tenho visto jovens cristãos que voltam ao Sri Lanka depois de estudar no Ocidente. Eles retornam altamente qualificados, mas a nossa nação pobre não pode dar-lhes o reconhecimento que suas habilidades adquiridas lá merecem. Então, eles se veem compelidos a lidar com a frustração ou abandonar de vez o país. Alguns montam suas próprias organizações, de modo a cumprir o que acreditam ser sua visão. Outros tornam-se consultores, dando treinamento e assessoria especializada a quem pode pagar por isso. E há, também, aqueles que pagam o preço de se identificar com o nosso povo e, finalmente, ter um profundo impacto sobre esta nação.Tento mostrar a eles que sua frustração poderia ser o meio para o desenvolvimento de uma mais visão profunda.Cito os exemplos de homens como Calvino e Lutero, que tiveram uma enorme variedade de ocupações e responsabilidades, de modo que só podiam usar os seus dons em meio ao cansaço. No entanto, os frutos de seu trabalho como líderes e escritores ainda abençoam a Igreja.
A teologia de Paulo no Novo Testamento enfatizou a necessidade de suportar pacientemente a frustração que vivemos em um mundo caído, aguardando o resgate da criação.Para o apóstolo, a natureza geme por causa de nós e vive essa frustração, conforme Romanos 8.18-27. Creio que não incluímos devidamente essa frustração em nossa compreensão do mundo. Medimos o sucesso de acordo com os padrões do mundo, e não para desafiá-los com a forma radicalmente diferente que a Bíblia ensina como caminho para a realização pessoal, profissional e espiritual. Uma igreja que tem uma compreensão errada dos dons dos seus membros vai certamente tornar-se doente.Esta pode ser uma razão pela qual a Igreja de hoje tem muita superficialidade.
Contemporaneamente, a ênfase na eficiência e nos resultados mensuráveis torna ainda mais difícil suportar a frustração.Nos últimos séculos, o desenvolvimento industrial e tecnológico no Ocidente fez da eficiência e da produtividade seus valores principais.Com o rápido desenvolvimento econômico, as coisas que eram consideradas luxo no passado tornaram-se não só necessidades, como também direitos, mesmo nas mentes dos cristãos.Num ambiente desses, a ideia cristã de compromisso entra em xeque. Costumamos chamar nossas igrejas e organizações cristãs de “famílias”, mas as famílias são muito ineficientes se comparadas a essas organizações eclesiásticas.Em uma família saudável, tudo para quando um de seus membros tem grandes necessidades.Em contrapartida, nós, em nossas comunidades, muitas vezes não estamos dispostos a estender esse compromisso para a vida cristã do corpo.

Compromisso com pessoas – O modelo bíblico da vida em comunidade é a ordem de Jesus para amarmos uns aos outros como ele nos amou. O princípio da liderança cristã é a do Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas, jamais abandonando-as mesmo quando a situação é perigosa (João 10.11-15).Quando Deus nos chama a servi-lo, ele nos chama também para morrer em favor do povo a que servimos. Nós não descartamos as pessoas quando têm problemas e não podem fazer o seu trabalho corretamente, pois servimos justamente para ajudá-las a sair de seus problemas. Nós não dizemos às pessoas para encontrar outro local de serviço quando expressam contrariedade ou mesmo se revoltam contra nós. O certo é trabalhar com elas, até que as partes conflitantes cheguem a consenso entre concordar ou discordar. Mas, quando as pessoas saem de uma igreja porque não se encaixam no programa proposto ali, isso comunica uma mensagem fatal: a de que nosso compromisso é com o trabalho, e não com as pessoas.
O triste resultado disso é que os crentes não têm a segurança de pertencer a uma comunidade que vai ficar e lutar por eles, não importa o que acontecer.Por isso, tornam-se superficiais, nunca desenvolvendo verdadeiros vínculos e jamais crescendo rumo à maturidade. Passam a deslocar-se de grupo para grupo, na expectativa de achar seu porto seguro.Uma igreja comprometida com programas pode crescer numericamente, mas não vai nutrir suficientemente os cristãos bíblicos que entendem as implicações de pertencer ao Corpo de Cristo.Sim, lidar com pessoas é, muitas vezes, frustrante.Mas nós temos de suportar as decepções advindas desse relacionamento, porque Cristo nos chamou para que nos doemos aos outros.
Tempos atrás, preguei sobre compromisso numa de minhas viagens ao Ocidente. No espaço de poucos dias em que durou aquela jornada, fui procurado por algumas pessoas. Todas relataram casos em que conhecidos, quando não eles mesmos, haviam deixado um grupo ou uma pessoa por causa de problemas.Uma dessas pessoas tinha saído de um casamento que considerava infeliz; outra deixara a igreja à qual pertencia por não concordar mais com suas propostas; um terceiro contou que tivera de abandonar o diante de dificuldades incontornáveis com os colegas. Cada uma dessas pessoas descrevia sua saída como uma versão misericordiosa do sofrimento.No entanto, não pude deixar de me perguntar se, em cada um daqueles casos, a única coisa que aquelas pessoas deveriam ter feito, como cristãs, não teria sido para ficar e sofrer.
Muita gente se solidariza comigo e com meu ministério pelo fato de eu servir em um país assolado pela guerra e hostil ao evangelismo. Na verdade, temos sofrido muito por isso, e somos afetados diretamente pela atual situação de Sri Lanka. Há alguns meses, um de nossos funcionários foi brutalmente agredido e morto.Tenho enfrentado diversas lutas durante meu trabalho na Mocidade para Cristo cingalesa, mas posso dizer que essa entidade, ao lado de Jesus e de minha família, tem sido a maior fonte de alegria para mim.  Pela graça de Deus, conto com um grande grupo de pessoas a quem recorro pedindo oração quando tenho necessidades. Uma delas, sem dúvida, é superar o cansaço. Quando escrevo sobre isso, muitos desses amigos de caminhada respondem dizendo que estão orando para que Deus possa me fortalecer e orientar na minha luta diária.
Contudo, existem diferenças na forma como os amigos do Oriente e alguns no Ocidente respondem.Tenho a sensação forte de que muitas pessoas no Ocidente pensam que lutar contra o cansaço por excesso de trabalho é prova de desobediência a Deus.Mas vamos ter de suportar o cansaço quando nós, como Paulo, formos servos do povo de Deus.O Novo Testamento é claro ao dizer que aqueles que trabalham para Cristo sofrerão por causa de seu trabalho.O Senhor nos chama em meio ao cansaço, ao estresse e à tensão.Paulo falou muitas vezes sobre as lutas físicas e mentais que o levaram a sofrer em seu ministério. A lista é longa: abalos emocionais (Gálatas 4.19); raiva (II Coríntios 11.29); noites insones e fome (II Coríntios 6.5); angústia e perplexidade (II Coríntios 4.8); fadiga (Colossenses 1.29).Em declarações que soariam radicalmente contra a cultura contemporânea, o apóstolo disse coisas como “ainda que o nosso ‘eu’ exterior se corrompa, o nosso ‘eu’ interior se renova de dia a dia” (II Coríntios 4.16). E o que dizer do texto que, no mesmo livro, fala rm ser entregue à morte por causa de Cristo? “De modo que a vida de Jesus também se manifesta em nossa carne mortal. Então, a morte é não é apenas a obra em nós, mas a vida em vós” (II Coríntios 4.11-12).

A glória da dor – Temo que muitos cristãos leiam tais textos apenas com interesse acadêmico, não pensando seriamente em como esses princípios devem ser aplicados em suas vidas. O Ocidente, depois de ter lutado contra a tirania do tempo, tem muito a ensinar ao Oriente sobre a necessidade de descanso.Ao mesmo tempo, o Oriente pode ensinar ao outro lado acerca das lutas físicas que vêm de compromisso com as pessoas.Ocorre que o sofrimento é um passo inevitável no caminho para a realização.Desde que a cruz é um aspecto fundamental do discipulado, a Igreja deve treinar líderes cristãos a esperar a dor e o sofrimento.Quando uma perspectiva assim entra nas nossas mentes, a dor, por mais forte que seja, não vai tocar nossa alegria e contentamento em Cristo.Tanto, que em nada menos que dezoito diferentes passagens do Novo Testamento, sofrimento e alegria aparecem juntos – e, na ótica paulina, o sofrimento é muitas vezes motivo de alegria, como expressou em Romanos 5.3-5.
Em um mundo onde a saúde, a aparência física, o acúmulo de bens e as facilidades da vida moderna ganham proeminência quase idólatra, Deus quer chamar cristãos para demonstrar a glória do Evangelho suportando a dor e o sofrimento. O curioso é que as pessoas que estão insatisfeitas após buscar incessantemente essas coisas, que sozinhas não satisfazem os anseios da alma, surpreendem-se ao ver gente alegre e contente, mesmo em meio a dificuldades de todo tipo. Talvez esta seja uma nova – e eficiente – forma de demonstrar a glória do Deus diante dessa cultura hedonista.
A Bíblia e a história mostram que o sofrimento é um ingrediente essencial para alcançar as pessoas não alcançadas. E o Ocidente está rapidamente se tornando uma região de não alcançados.Será que a perda de uma teologia do sofrimento pode levar a Igreja ocidental a tornar-se ineficaz na tarefa de evangelização?Sua congênere oriental, no entanto, floresce no anúncio das boas novas, mesmo em contextos de intensa perseguição à fé. É por isso que a troca de influências entre os dois lados da cristandade tem sido tão significativa, e disso posso falar por experiência própria. Cristãos, tanto no Oriente como no Ocidente precisam ter uma teologia do sofrimento se quiserem ser saudáveis e frutíferos nas mãos do Senhor.
Ajith Fernando é diretor nacional de Mocidade para Cristo em Sri Lanka e líder de uma igreja cristã em Colombo, a capital do país. Autor do livro Convite à alegria e dor, escreveu este artigo como parte da Conversa Global , evento preparatório do III Congresso Mundial de Evangelização, que acontece em outubro na Cidade do Cabo (África do Sul)

domingo, 5 de agosto de 2012

CARTA PASTORAL SOBRE A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

I – CONCEITUAÇÃO
A chamada “teologia da prosperidade” parte do princípio de que todos são filhos  do Rei (Deus, Jesus) e
que, portanto, recebem os benefícios desta filiação  em forma de riqueza,  livramento de acidentes e
catástrofes,    ausência  de  doenças,    ausência  de  problemas,    posições  de  destaque,  etc.        Esta    “teologia”
oferece fórmulas para fazer o dinheiro render mais,  evitar-se acidentes,  livrar-se de  doenças e problemas,
aumentar as propriedades, além de viver uma vida sem dificuldades.
A teologia da prosperidade sustenta que nenhum filho de Deus pode adoecer ou sofrer, pois isso seria
uma clara demonstração de ausência de fé e, por outro  lado, da presença do diabo. Ao mesmo tempo, eles
chegam ao exagero de declarar que quem morre antes de 70 anos é uma prova de incredulidade, imaturidade
espiritual ou pecado.
II – IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Nas décadas de 60 e 70, espalhou-se pelas igrejas dos Estados Unidos, especialmente aquelas de
tendência pentecostal, um movimento  cuja afirmação principal é garantir saúde integral, sucesso total nos
empreendimentos, enfim, prosperidade a todas as pessoas que cumprem a vontade de Deus, através de suas
vidas.
Embora não conheçamos a maioria dos líderes desse movimento, os evangélicos brasileiros conheceram
Jimmy Swegart, um evangelista que freqüentou os nossos televisores à custa de milhões de dólares. Não fossem
os muitos de seus escândalos descobertos, juntamente com outro evangelista, Jim Bakker, hoje ainda teríamos
suas pregações nas emissoras de televisão brasileiras. No final da década de 70, se pode assistir, através da
televisão, o auge desse movimento, quando multidões enchiam imensos templos, estádios, parques públicos, em
busca da orientação e proteção de Deus para alcançar fama, sucesso e dinheiro. Foi no impulso desse movimento
que vieram por exemplo, o contraditório dente de ouro e outras manifestações igualmente estranhas.
Como uma bomba de efeito retardado, a teologia da prosperidade chegou ao Brasil, através de uma
perfeita divulgação. Assim, de repente, as livrarias  evangélicas começaram a vender enorme quantidade de
livros e fitas divulgando esta novidade. Foi assim que um dos mentores dessa doutrina, Kenneth Hagin, tornou-se
um sucesso de vendas nas livrarias evangélicas, no Brasil. Daí suas idéias espalharam-se pelas igrejas.
III – A VISÃO BÍBLICA E TEOLÓGICA
Encontramos no Antigo Testamento pelo menos dez diferentes palavras da língua hebraica que
pertencem ao mesmo campo de significado, a saber: prosperar, ter êxito e sucesso, sair-se bem, fazer crescer,
fortalecer, pacificar, ser frutífero, fartar-se e riqueza.  Portanto, a Bíblia tem seu próprio conceito de
prosperidade. Como este conceito é tão diferente da maioria dos atuais, é necessário que estejamos atentos e
abertos à antiga, porém sempre correta, proposta bíblica.
O que é prosperar? Como a prosperidade, prioritariamente, não é obter vantagens pessoais ou ganhar
dinheiro, como a Bíblia trata este assunto? Vejamos alguns exemplos:
1. O profeta Ezequiel relaciona prosperidade para a casa de Israel com a videira que dá frutos (Ez. 17.1-10; cf.
Sl. 1.3);
2. Quando Josué assumiu a liderança do povo, em lugar de Moisés, Deus lhe fez algumas instruções decisivas
que definem a prosperidade: ser forte e corajoso, não temer e andar nos seus caminhos (Js. 1.1-9);
3. Na oração de Neemias encontramos uma outra definição de prosperidade: praticar a misericórdia, isto é, ser
bondoso e leal para com Deus e os seus semelhantes (Ne. 1.11);
4. Muitos textos bíblicos definem o êxito e sucesso na vida com a conduta sábia, o discernimento e a
perspicácia no trato com a instrução de Deus (Dt. 29.9; 1 Rs. 2.3; Ec. 10.10; 11.6);
5. Trazer paz ao mundo também pode ser considerada uma atitude de sucesso (Sl. 122.6-7);
6. O povo de Deus entendia que fazer o bem e agir corretamente na vida era ser próspero (Jó 21.13; Sl. 106.5);
7. Uma definição bíblica que resume todas as demais é a seguinte: o próspero é uma pessoa que imita o agir de
Deus. O Salmo 1 encontra esta pessoa. É o justo. Evidentemente, toda a Bíblia proclama que Deus é  a causa direta da prosperidade dos justos (Gn.
39.3,23; Is. 48.15; Ez. 17.9-10; Ne. 2.20). Entretanto, Deus usa uma pedagogia, isto é, um jeito correto e
instrutivo para nos dar a sua ajuda e sua graça. Assim, a Bíblia mostra que a prosperidade do povo de Deus vem:
• Pelo sofrimento e pela graça de Deus (Is. 53.10), que ensina que o começo de todo bem sucedido
empreendimento humano reside na capacidade da pessoa para sofrer;
• Pela fidelidade e lealdade a Deus e ao povo de Deus (Jr. 13.7-10; Dn. 6.9);
• Pela busca do temor do Senhor (I Cr. 26.5);
• Pela prática da justiça (Sl. 1.3);
• Pela posse (descida) do Espírito de Deus (Jz. 14.6; 19; 15.14).
É possível que estejamos repetindo conceitos e definições, porém a Bíblia é uma testemunha instrutiva. Ela,
através de suas reportagens, nos oferece pistas para obtermos sucesso na vida. Nela aprendemos que, em
primeiro lugar, a obtenção de prosperidade é precedida de pedido, apelo, por parte da pessoa interessada (Sl.
118.25); segundo, através de uma vida de piedade e fidelidade à instrução de Deus (Js. 1.7-8; Dt. 29.9; I Cr.
31.21); terceiro, através da insistente busca de sabedoria (Ec. 2.21; 11.6).
Também encontramos na Bíblia alguns textos que tratam a prosperidade de forma bastante negativa. Para os
autores bíblicos, a prosperidade como ganho, sucesso e êxito nos empreendimentos da vida conflita com os
princípios básicos da fé. Dois textos ilustram estes princípios:
1. Porque prosperam os malvados? (Jr. 12.1-6) Ao lermos este texto, percebemos que ele é um corpo constituído
de duas partes: na primeira, o profeta faz. Em tom de queixa, uma tremenda acusação contra Deus (vv. 1-4); na
Segunda parte, temos uma dura resposta de Deus (vv. 5-6). Este tipo de diálogo apimentado, entre o profeta e
Deus, nós o encontramos em Habacuque (1.2; 2.4) e constitui a preocupação central do livro de Jó.    
A questão geradora da queixa de Jeremias é: Porque os ímpios prosperam? Diante disso, o profeta abre
um processo jurídico contra Deus: Eu vou abrir um processo contra Ti (v. 1 a). O surpreendente, aqui é que ele
acusa Deus de ter permitido, com seu silêncio, o Domínio dos malfeitores sobre os justos (comparar Ha. 1.2-4;
12-17).
Sua justificativa tem dois tipos de argumento: O primeiro é direto: Apesar de serem desleais (v. 1b),
usarem dos feitos de Deus para encobrirem suas más ações, (v.2), provocarem a destruição dos animais e aves
(v.4 a) e propagarem mentiras sobre Deus (v. 4b), esses malvados (como lobos vestidos de cordeiros) prosperam
e gozam de tranqüilidade (v. 1b)  e   o segundo é indireto:  O profeta justifica sua acusação, mencionando
algumas conseqüências danosas e provocadas pelos prósperos ímpios: primeiro, a gula de prosperidade alimenta
e multiplica a deslealdade (v. 1b); segundo, a ansiedade pelo lucro fácil não tem limites, agredindo e destruindo
a natureza a flora e a fauna (v. 4 a) a ponto de justificar seus atos com uma mentira, Deus não vê o nosso futuro
(v. 4b).
O pequeno diálogo se encerra de modo surpreendente para o profeta: o pior estava por vir. Aqui, o
profeta não recebe uma resposta satisfatória e tranqüilizadora para o problema do mal e do sofrimento,
provocado pelas pessoas prósperas, que ele experimentava na própria carne.
2. A prosperidade dos ímpios incomoda os crentes (Sl. 37.1-40). Este Salmo mostra outro exemplo da crise de fé
causada pela prosperidade das pessoas más, egoístas, violentas, opressoras e descrentes. A maior parte do Salmo
é admoestação (vv. 1-11 e 22-40). O restante trata das descrições do inimigo (vv.12-15), do justo e do ímpio (vv.
16-26).
O salmista busca orientar, animar e sustentar a esperança do crente fiel para que este se mantenha
firme diante de toda provocação causada pela prosperidade dos ímpios (vv. 10.39-40).    Diante do sucesso dos
malvados, o salmista recomenda:
• Não te exasperes, não invejes (v.1);
• Confia no Senhor e faze o bem, habita a terra e cultiva a fidelidade, põe tuas delícias no Senhor, confia teu
caminho ao Senhor e nele espera, descansa no Senhor e espera nele, não te exasperes, acalma a ira, reprime
o furor (vv. 2-8);
• Evita o mal e faze o bem (v.27); espera no Senhor e segue o caminho (v.34);
• Observa o homem íntegro e atenta no que é reto (v. 37)
• Todas estas recomendações são justificadas pela fé na atuação de Deus.
• Ele satisfará os desejos de teu coração; fará surgir tua justiça como a aurora e o teu juízo como o meio-dia;
• Ele realizará os desejos de teu coração e atuará (vv. 4-6);
• Os malfeitores serão exterminados e os que  esperam no Senhor possuirão a terra (v.9);
• O Senhor se ri do ímpio, porque vê chegando seu dia (v. 13);
• O Senhor firma os passos do homem... porque ele o sustenta pela mão (v. 24);
• Ele ama o que é justo e não sustém os justos (v. 17);
• Ele conhece os dias dos íntegros (v. 18);
• O Senhor não abandona os que lhe são fiéis (v. 28);
• O Senhor não entrega o justo nas mãos dos ímpios, nem permite que o condenem no tribunal;
• Ele te dará posse da terra (vv. 33-34);
• O Senhor socorre e livra os justos (v. 40).
A extensa lista de justificativas tem sua razão, pois, certamente, a prosperidade crescia entre o ímpios.
Em conseqüência disso, o salmista (bastante perturbado!) escreve esse manual de instrução para os crentes, que
poderíamos intitular: COMO ENFRENTAR A SOBERBA DOS ÍMPIOS.
Como enfrentar a soberba dos ímpios. Diante de nós estão duas experiências, mas um só problema: a
tentadora idéia de ser financeira ou artisticamente próspero. A difícil experiência de Jeremias e a crise de fé
vivida pela comunidade do salmista podem nos levar a estabelecer uma cartilha orientadora para os crentes.
A Bíblia conhece a prosperidade como uma atitude sábia de enfrentar e responder às agressões da vida
com bondade, lealdade, fé, ação justa, solidariedade (Sl. 37.6).
A idéia de prosperidade, espúria à Bíblia, é a mesma oferecida a Jesus por satanás (Mt. 4.1-11; cf. Mc.
1.12-13; Lc. 4.1-13). É uma prosperidade relacionada a dinheiro, lucro, êxito na vida e sucesso nos
empreendimentos pessoais. Na denúncia de Jeremias (12.1-6), os prósperos são inimigos do servo de Deus,
cometem perversidade contra as pessoas, contra a natureza, promovem a descrença. No caso do salmista, o
perfil dos homens prósperos é mais amplo, e a repercussão de seus atos é, aparentemente, maior. O gesto dessa
gente má provoca sentimentos de indignação e inveja (v.1), irritação (v.7), ira, furor e impaciência (v. 8), entre
outras reações. Por todas essas razões, a Bíblia distingue  dois tipos de prosperidade.
A forma de prosperidade, denunciada por Jeremias e pelo salmista, é  extremamente perigosa para a
estabilidade e o bem-estar da vida humana. É uma prosperidade que gera pobreza, desnível social, descrença,
sacrifício dos mais fracos, falta de sensibilidade para com a natureza, soberba de uns e humilhação de outros,
complexos de inferioridade, medo. Tudo isso ocorre porque o valor maior é o dinheiro, a promoção pessoal, o
êxito empresarial. Quando a dignidade humana estiver sujeita ao dinheiro, o mundo ficará perigoso para se
viver. É por essa razão que o salmista grita: “socorro, Senhor!” (Sl. 12.1) e o profeta Jeremias se impacienta:
“Até quando”? (Jr. 12.4). O sistema de vida que a teoria da prosperidade defende está cheio de competições:
patrão/empregado; nação rica/nação pobre. Quem é mais forte explora ou elimina o mais fraco.
O texto de Jeremias e o de Salmos ensinam o crente como enfrentar o sistema de vida dos prósperos.
Ambos sugerem formas para confrontar esse inimigo. O salmista é mais objetivo e sugere formas de enfrentar
essa praga que está apagando da memória do povo o conhecimento de Deus. O texto de Jeremias (12.1-6)
reflete toda a perplexidade do crente diante do crescimento de prosperidade e poder dos ímpios. Enquanto isso,
o Salmo 37 tenta instruir os crentes fiéis para enfrentar o problema. Quando a Bíblia fala da justiça divina, ela
não quer dizer que Deus castiga os pecadores e premia os justos. Se isso ocorresse, os templos estariam
abarrotados de pessoas. Acontece que o ensino bíblico acerca da justiça divina não é utilitarista. O princípio, é
dando que se recebe, não retrata bem o ensino da justificação.
A solução do problema em torno da prosperidade dos ímpios e do sofrimento dos justos não é imediata,
isto é, a transferência direta dos bens dos ímpios para os crentes. A  Bíblia ensina que a superação desse
problema não tem data marcada, mas está na fidelidade do justo (cf. Hab. 2.4). Tanto Jeremias como o salmista
não orientam os perplexos crentes a fugirem para longe dos ímpios, mas a se manterem firmes na fé. Por isso o
grande  apelo  do  salmista  é:  confiar  em  Deus  (vv.  3,5,7,34) e esperar que um dia a justiça divina possa
restabelecer a paz na terra.
IV – ORIENTAÇÕES
1. O estudo sobre o tema da prosperidade deve levar em consideração todos os textos bíblicos e não apenas
alguns em particular, como os teólogos da prosperidade costumam fazer para sustentar suas idéias;
2. O estudo deve levar em conta o contexto no qual  surge o tema da prosperidade e, portanto, seguir
rigorosamente os princípios de interpretação bíblica;
3. O conceito bíblico de prosperidade contrapõe, como vimos anteriormente, o conceito difundido hoje em dia
nos meios evangélicos. Na abordagem do tema é necessário que esta diferenciação seja considerada.
4. Deve ficar sempre claro que Deus é o autor da vida, consequentemente, Ele é o responsável pelo sucesso,
pelo êxito ou prosperidade do Seu povo;
5. Vivemos numa sociedade que busca a prosperidade a qualquer custo, renunciando a solidariedade, a justiça,
o bem-estar dos outros, atitudes estas compatíveis à cidadania do Reino de Deus.

IGREJA METODISTA